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Cabo Verde comemora o seu 40º Aniversario da Independência, sob o lema “CABO VERDE NHA AMOR, NHA FE, NHA LUTA”
Neste 40º Aniversario da Independência de Cabo Verde, sob o lema “CABO VERDE NHA AMOR, NHA FE, NHA LUTA”, a UCRE comemora com o país e partilha com todos os cabo-verdianos momentos marcantes da sua história.
Arriar da bandeira no Estádio da Várzea - 1975
Acto da assinatura oficial da independência de Cabo Verde 1975 – Palácio de Plateau
Assinatura dos acordos para a Independência em Lisboa
Hastear da bandeira no Estádio da Várzea - 1975
LINK :Programa das Comemoracoes do 40 Aniversario da Independencia de Cabo Verde
40º Aniversário da Independência: CABO VERDE NHA AMOR, NHA FE, NHA LUTA”
Cabo Verde comemora, a 5 de Julho de 2015, sob o lema “CABO VERDE NHA AMOR, NHA FE, NHA LUTA”, o seu 40º Aniversário da Independência. Várias actividades foram programadas para comemorar esta efeméride importantíssimo para todos os cabo-verdianos.
Entre elas, destacam-se as culturais - uma velada cultural com o Ballet Nacional e Danças das Ilhas, orquestra nacional e cantores das Ilhas e orfeão da Praia – e a inauguração da Avenida Aristides Pereira, sito entre a rotunda de Achada Grande Trás e a Rotunda do Aeroporto Nelson Mandela.
Para o dia 5 de Julho - dia central das comemorações - de acordo com o programa, está programada uma Sessão Solene na Assembleia Nacional, Missa de Acção de Graças, Deposição de coroa de flores no memorial Amílcar Cabral e noite de compositores (de antes e depois de 1975), com Homenagem póstuma a alguns Compositores.
Link Programa: Programa da Comemoracao do 40 Aniversario
Fonte :www.governo.cv
A UCRE recebeu o Director das TIC da Gambia
A UCRE recebeu na segunda ferira dia 29, o Director das TIC´s – Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação da Gambia, com o objectivo de recolha e análise de informações, no âmbito e reformas de estado implementas, com a finalidade de estudar e comparar as melhores práticas e técnicas em matéria de princípios, modelos, estratégias de Reforma do Estado.
Em 1975 todos tínhamos heróis, recorda José Maria Neves
O actual primeiro-ministro recorda, em entrevista à Lusa, aquilo que sentiu no momento da independência do país. Os momentos entre o 25 de Abril de 1974 e o 5 de Junho de 1975 passaram a correr e são recordados com simpatia.
Aos 15 anos, José Maria Neves sabia que havia gente a combater pela independência e pela liberdade de Cabo Verde e alguns nacionalistas africanos detidos na prisão do Tarrafal. Para o primeiro-ministro, a coisa apresentava-se, assim, simples.
A vida de adolescente na Assomada, no interior da ilha de Santiago, onde nasceu em 1960, estava longe do “centro político” e a pequena localidade de então, hoje cidade, estava ainda mais longe da Cidade da Praia, cujos 40 quilómetros de estrada de terra pareciam, na altura, 200.“Eu tinha a ideia, na altura, 1975 – estava a entrar no liceu, no Ensino Secundário -, de que algo de novo, de transformador, estava a acontecer com o país.
No momento do «25 de Abril» (de 1974) – estava no actual 7.º ano -, percebi que tinha havido uma revolução e que algo de extraordinário estaria para acontecer. Depois, veio toda aquela movimentação para a independência. Apesar de adolescente, desejava ardentemente a independência e, para mim, era o momento de uma nova largada”, contou.Numa entrevista à agência Lusa sobre os 40 anos que passaram desde a independência de Cabo Verde, a 05 de Julho de 1975, “Zema”, nome por que é conhecido no arquipélago, diz lembrar-se da pobreza de então: as pessoas descalças e mal vestidas, as casas degradadas e uma atitude e comportamento “fechados”.
À distância de quatro décadas, José Maria Neves, hoje com 55 anos, lembra-se da chegada dos “heróis nacionais, quer os nacionalistas cabo-verdianos, guineenses e angolanos presos no Tarrafal, quer dos “míticos combatentes” na Guiné.“Sim (tinha heróis), eram basicamente os que vieram da luta de libertação ou os que saíram das prisões coloniais, designadamente do Campo de Concentração do Tarrafal […] e também alguns presos do Campo de São Nicolau, em Angola”, admitiu. “Tínhamos a ideia de gente que tinha combatido pela independência, pela liberdade, e que estava presa nos campos de concentração. E também começaram a chegar os míticos combatentes da liberdade da Pátria que estavam na Guiné-Bissau.
Eram esses os nossos heróis”, sublinhou. E foi nessa altura que despertou para a realidade política, ao começar a ler os textos e poesias de Amílcar Cabral, “pai” das independências da Guiné e Cabo Verde, que fora assassinado dois anos antes em Conacri (as circunstâncias da morte estão ainda por esclarecer).“Havia os cartazes e os panfletos, que eram divulgados na altura. «Amílcar Cabral, militante n.º 1, herói do nosso Povo», «Aristides Pereira, herói do nosso Povo», Pedro Pires também chegou. Tínhamos alguma admiração, até excessiva, diria, por esses grandes combatentes que tinham vindo para Cabo Verde”, reconheceu.
A partir da independência, o povo cabo-verdiano começou a sentir as coisas de forma diferente, com novidades como a nova bandeira e o novo hino. “Costumo dizer que já presenciei dois momentos fortes: o da independência, com uma nova bandeira e um novo hino, e, depois, o processo de democratização (1990/91), de novo com uma mudança da bandeira e do hino. Sou de três hinos e de três bandeiras. Isso dá ideia das mudanças, das transformações que o país acabou por ter durante todos estes anos”, salientou.
Hoje em dia, José Maria Neves diz-se “orgulhoso” de um país já nos “entas”, onde as pessoas já andam bem vestidas e calçadas, com um “outro brilho no olhar”, “já sem o desejo ardente” de querer partir para encontrar novas formas de vida fora do arquipélago, apesar de ainda muito haver por fazer. “Em 2001, não tinha a ideia que podíamos avançar tanto como nestes últimos 15 anos. Acho que Cabo Verde, tendo em conta as condições de partida, transformou-se completamente e hoje é um país absolutamente diferente daquele que ascendeu à independência”, afirmou.“Surpreende-me o percurso feito, os ganhos, e o país que, à partida, tinha menos condições para se afirmar no contexto das Nações, em África e no Mundo, foi aquele que, dos «cinco» (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), fez um percurso mais notável nestes últimos anos”, acrescentou.
José Maria Neves, que deixou a liderança do PAICV em Janeiro deste ano, após 15 anos como presidente, vai retirar-se da cena política cabo-verdiana nas próximas eleições legislativas, previstas para o primeiro trimestre de 2016, para se dedicar ao doutoramento e à docência universitária.
Jovens provocaram mudança do PAICV em 1997.
Em 1997, 22 anos após a independência, um grupo de jovens liderado por José Maria Neves “ousou” enfrentar o ”todo poderoso” Pedro Pires e respectiva direcção do PAICV, oposição na altura, pois “havia necessidade de provocar mudanças” no partido. Na altura, a “ousadia” de José Maria Neves, que já fora líder da Juventude do PAICV, não resultou, mas foi nesse preciso momento que o actual primeiro-ministro lançou as bases para conquistar a força política dois anos mais tarde.“Na altura, em 1997, achei que, 22 anos depois da independência, era o momento de provocarmos mudanças na liderança do partido. Pedro Pires poderia pensar noutros cargos, mas regressar à liderança do PAICV, do ponto de vista de um grupo de jovens dirigentes na altura, não fazia sentido”, disse à agência Lusa.
Segundo José Maria Neves, chefe do executivo desde 2001, em 1997, havia a consciência de que “era impossível derrotar Pedro Pires no partido, sobretudo porque as eleições eram indirectas, não directas.“Naquela cúpula dirigente, Pedro Pires ainda tinha um domínio quase absoluto. Mesmo assim tivemos 33% (dos votos no Congresso de 1997), o que foi bom, e projectou a minha liderança (para o de 1999). Ganhei praticamente o PAICV naquele congresso de 1997”, lembrou José Maria Neves, na altura com 39 anos.
Em 1999, após oito anos na oposição ao Movimento para a Democracia (MpD), José Maria Neves já não concorreu contra Pedro Pires, mas sim contra Felisberto Vieira, seu companheiro no caminho do PAICV e com quem viria a incompatibilizar-se politicamente, que contava com o apoio do até então líder do partido.“Como, aliás, já estávamos a prever, em 2000, Pedro Pires decide sair para se candidatar a Presidente da República (nas presidenciais de 2001, em que seria eleito)”, salientou o ex-presidente do PAICV (de 1999 a Janeiro deste ano). “A candidatura (de Felisberto Vieira) foi mais para (Pedro Pires) estar de novo na ribalta e poder posicionar-se para uma eventual candidatura à Presidência da República. Não era para o partido.
Quando decide candidatar-se, decide também apoiar outra candidatura à liderança do partido, a de Felisberto Vieira”, contou.Ganho o partido, o passo seguinte era vencer as legislativas de 2001, o que viria a suceder, depois de suspender o mandato de presidente da câmara de Santa Catarina (interior de Santiago, de onde tanto José Maria Neves como Felisberto Vieira são naturais), com maioria absoluta no Parlamento, tal como aconteceria em 2006 e 2011. Curiosa é a revelação de que, quando se sentou pela primeira vez na “cadeira” de chefe do executivo, ter sentido “um grande vazio”.
“Quando formei o Governo, nenhum de nós tinha experiência governativa. Tinha havido os primeiros três Governos de Pedro Pires (primeiro-ministro entre 1975 e 1991), na I República, e todos esses dirigentes já tinham, em 2001, mais ou menos abandonado a esfera de acção política (após 10 anos de governação do MpD, de Carlos Veiga)”, explicou. “Foi uma nova geração que assumiu o Governo. Chegámos aqui pela primeira vez e ninguém tinha experiência governativa. Senti um grande vazio, até porque a transferência de poderes (do MpD para o PAICV) também não tinha sido feita nas melhores condições, sem os principais dossiês. […] Foram momentos muito difíceis”, reconheceu.
Questionado sobre se poderá estabelecer-se o paralelo entre o que sentiu – não havia experiência governativa – e o vazio que Pedro Pires já assumiu ter sentido em 1975, José Maria Neves respondeu que não, pois o contexto de há 40 anos era “muito mais difícil e complexo”. Era “um país que ascendia à independência sem nada, sem instituições, sem recursos, com uma pobreza muito grande. Em 2001, a situação já era completamente diferente. Havia instituições, mas não tínhamos experiência governativa. Tínhamos uma máquina administrativa que, de uma forma ou doutra, funcionava. Tínhamos melhores condições económicas e já tínhamos empresas. A situação era diferente e não se pode comparar. Pode ter havido a mesma sensação de vazio, de angústia, mas a situação, do meu ponto de vista, era completamente diferente”, concluiu.
Fonte:Lusa
40 anos de Independência: “A História de África tem sido sempre mal contada”, diz Pedro Pires
O ex-Presidente e antigo primeiro-ministro recorda as negociações para a independência do país, na década de 1970 e fala sobre o processo de descolonização. Em entrevista à agência Lusa aborda também a história recente de um país que também é visto como um modelo de democracia em África.
Há aquele ditado, várias vezes por si citado, sobre a falta de historiadores que glorifiquem os leões em vez dos caçadores, de Joseph Ki-Zerbo.
A história tem sido muito mal contada?
Em relação ao ditado, africano, com alguma razão. Em relação à História, ela própria tem sido sempre mal contada. A História que, muitas vezes, é apresentada e que precisa de ser revista é a dos vencedores. Os vencedores apresentam as suas versões, as suas razões e os seus objectivos. Está claro que o vencedor vai apresentar isso da forma em que ele não se apresente como um agressor, ou como aquele que pratica a violência, mas sim como aquele que defende uma boa causa. Mas é preciso saber se as boas causas são efectivamente boas causas. É isso que levanto. Vamos repensar tudo o que foi dito e escrito durante todo esse tempo, porque, quando nós desejamos trabalhar para a reconciliação da Humanidade, está claro que temos de ver vários aspectos e um deles é esse, da História, como cada um de nós está colocado e visto pela História e na História.Nesse âmbito, essa citação é contestatária, mas creio que tem muita razão de ser. É preciso rever tudo isso, rever as histórias e repor, ou tentar interpretar as coisas, no sentido da reconciliação do diálogo e da reconciliação das várias famílias da Humanidade.
De qualquer forma, Cabo Verde é um país vencedor, pois ganhou a independência. Mas há 20 ou 30 versões sobre a sua História.
Há várias e de acordo com as palavras dos intervenientes. Cada um tem a sua versão. Caberá ao historiador, ao investigador, que certamente se colocará com um certo distanciamento e objectividade, recolhendo os factos todos, a partir daí, tentar elaborar a História que traduza mais ou menos a realidade das coisas. Há dias, alguém dizia ser preciso muito cuidado com a memória. O que temos visto é mais a memória. A pessoa apresenta a memória que tem dos factos e da sua história. Mas agora nós podemos falar da História, que é ligeiramente diferente da memória. Temos direito à memória e à história, mas, para a elaboração de uma História que sirva de referência para todos, é ligeiramente diferente da recolha e da apresentação das memórias.
O que haverá escrito nos manuais escolares de História em Cabo Verde dentro de 20 ou 30 anos?
Isso não sei (risos…). Não sei se estarei cá para ver isso. O que acho é que me cabe o dever de deixar as minhas memórias. Mas não pretendo escrever a História. Dessas memórias, os historiadores poderão extrair elementos para elaborar a História.
Foi Primeiro-ministro, foi Presidente da República e esteve, antes da independência, ligado à luta de libertação. O que representa para si ter uma vida inteira dedicada a uma causa? A libertação, de um lado, e o desenvolvimento de um país, após a independência?
Não representa muita coisa. Cada um de nós deve ter um sentido na vida e um de vida. Eu escolhi esse, o de lutar pela independência do meu país, de lutar e participar na construção de um Estado independente. Depois disso, escolhi agir, de acordo com as minhas responsabilidades para estimular e facilitar o desenvolvimento do país, a construção do bem-estar dos cabo-verdianos. Agora, o que é que isso nos trás? Se isso nos traz satisfação? Claro que sim, porque todos nós precisamos de algo na vida, que é sentirmo-nos realizados. Quer dizer, fazemos uma opção e queremos que ela tenha os resultados que esperamos.
Foi “vítima” de muitos sacrifícios pessoais?
Não diria tantos sacrifícios. Pessoalmente, hoje não tenho o sentimento de ter feito sacrifícios extraordinários. Vivi uma vida, orientada num certo sentido. Procurei agir com coerência e de forma que as minhas opções, as minhas escolhas, tivessem sucesso. A partir daí, não sei se posso reclamar ter feito sacrifícios a mais. Vivi a vida de acordo com as circunstâncias.A Guiné já tinha sido reconhecida por Portugal (10 de Setembro de 1974) quando decorreu a reunião de Lisboa (19 de Dezembro de 1974). As negociações de Londres e de Argel frutificaram. O acordo assinado em Lisboa foi um ponto de viragem com as ex-colónias?Vamos ver o que constituiu o Acordo de Argel. Constituiu um ponto de viragem em tudo aquilo que podemos considerar o sistema colonial português: um passo para o reconhecimento das independências das antigas colónias. É um ponto de mudança de paradigma político que é passar de colónia para Estado independente. Esse aspecto, essa alteração, essa mudança, é extremamente importante. Do lado de Portugal, também é uma mudança grande, porque há uma reconstituição. Afinal, o que é Portugal? Havia diversas opções e elas afinal levaram às independências. A independência da Guiné, o reconhecimento do Estado da Guiné-Bissau, foi um passo muito importante na caminhada da independência dos outros países – Angola, Cabo Verde, Moçambique ou São Tomé e Príncipe.Mas houve negociações simultâneas, ao mesmo tempo, de modo que tudo aquilo foi um processo complexo. Mas o primeiro passo foi com a Guiné-Bissau e daí a importância do acto de reconhecimento do Estado da Guiné-Bissau.
As negociações foram duras ou houve abertura de Portugal?
Estando agora à distância é complicado recompor os sentimentos e as percepções de então. Foram umas negociações, chamemos-lhes assim, ao mesmo tempo interessantes e inteligentes. Cada um esgrimia os seus argumentos em favor das suas teses. De modo que foi, para nós, para mim, interessante e enriquecedor do ponto de vista humano. Mas permitiu-me também aprender muito a negociar e a defender os meus pontos de vista e do meu partido (PAIGC). Do outro lado estão os meus interlocutores. Do ponto de vista humano foi bastante rico. Conseguimos criar relações de entendimento e, por fim, de amizade. Permitiu-me alargar a minha visão das coisas e ter, hoje, esses meus antigos interlocutores como amigos pessoais. É bem possível que seja raro isso acontecer.
O processo de descolonização, comparando com outros países, foi exemplar?
O de Cabo Verde foi interessante e diferente dos outros, porque os compromissos também foram diferentes. Os contextos das negociações também foram diferentes. Isso permitiu-nos chegar a um compromisso sobre a transição. Esse é o lado mais interessante: o compromisso sobre a transição. Num compromisso há sempre concessões e criámos todas as condições para uma transição serena. Foram também criadas as condições para o futuro das relações com Portugal. Se, de um lado, conseguimos realizar os nossos objectivos – o estabelecimento de um período de transição e as condições para o acesso à independência –, por outro, deixámos abertas todas as possibilidades de desenvolvimento das relações futuras entre Cabo Verde e Portugal. Até porque Cabo Verde não poderia dar-se ao luxo de ter posições extremas e criar situações em que pudesse ficar isolado na arena internacional ou reduzir o número dos seus aliados e parceiros internacionais. Era, de um lado, a independência, e do outro, deixar o caminho aberto ao relacionamento amigável e útil entre Cabo Verde, Portugal e outros países interessados nesta região do Mundo.
Almeida Santos, Mário Soares, Vasco Gonçalves e Melo Antunes foram “personagens chave” nas negociações. À distância, como vê a forma como Portugal evoluiu em relação às antigas colónias?
Não me compete fazer essa avaliação política. Competirá aos portugueses e seus historiadores fazerem essa avaliação dos resultados. Eu entendo o seguinte: 40 anos depois, devemos ter em conta a complexidade do contexto em que se processou o processo de descolonização. Em Portugal tinha havido uma mudança de regime, e o novo regime não estava consolidado. Antes pelo contrário. Vivia-se uma situação de luta intensa pelo poder e pela imposição da natureza das instituições do Estado. Era uma situação difícil e complexa e, ao mesmo tempo, havia que negociar com os movimentos de libertação dos vários países. E, para acrescentar, ainda havia a situação em Timor. Negociar nessas condições é extremamente complicado e não é fácil e penso que há que dar atenção a esse lado. Só poderemos dizer que os negociadores e os dirigentes portugueses da altura souberam negociar, sair dessa situação e criar as condições para o novo Portugal, mas também para as futuras relações com as ex-colónias. Há que analisar as negociações tendo em conta o contexto complexo e complicado por que passava Portugal e os dirigentes portugueses. Aí só posso dizer que os negociadores portugueses na altura fizeram um trabalho muito bom. Se nós pensarmos nisso caso a caso, não dá. É o seu conjunto. Os negociadores portugueses defenderam, acredito, os interesses de Portugal e saíram-se bem dessas negociações. Daí o meu respeito por qualquer deles: Almeida Santos, Mário Soares e pelo malogrado Melo Antunes, de quem fui muito amigo e com quem me encontrei várias vezes noutras circunstâncias. E o próprio general Vasco Gonçalves que, pela sua personalidade, foi um grande impulsionador da descolonização.
Falou há pouco do contexto difícil que viveu Portugal nessa altura. Curioso é o facto de Cabo Verde se ter tornado independente a 05 de Julho de 1975. Mais um pouco, apanhava o “Verão Quente” desse ano…
Já lhe disse que não entro por aí (risos…). Não entro nessas situações críticas. Prefiro ficar de fora. Mas isso não significa que estivéssemos alheados do que se passava em Portugal. Falámos com alguns protagonistas de então, entre eles Melo Antunes.
Uma última questão: em algum momento receou que esses acontecimentos em Portugal pudessem pôr em risco o processo de independência de Cabo Verde?
Não. Nós acreditámos sempre que os compromissos são para respeitar, para observar e que não haveria problemas nenhuns. Nunca tivemos esse pressentimento. Para nós, as coisas iriam até ao fim sem grandes problemas.
O almirante Almeida d’Eça foi importante na transição?
Foi extremamente correcto como Alto Comissário. Procurou dar o contributo que se lhe pedia. Acho que devemos considerar e apreciar – eu tenho um enorme apreço – o trabalho que fez. Do seu lado, o Alto Comissário deve ter também a ideia de que nós agimos e facilitámos esse período de transição para que chegássemos a bom porto.
Fonte: Lusa